sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Me 'decepcionei' com os aparelhos auditivos, e agora??


Recebi meus aparelhos pelo SUS dia 14/07, começando no primeiro estágio: um volume baixo, mas que pra mim já era alto demaaaais. Saindo da sala da fono, paro na frente da televisão na sala de espera, com o estômago gelado, expectativa enorme, e espero a primeira frase. Depois, a segunda, terceira e...E....O que era aquilo? Japonês? Russo? Alemão?
Não, era português mesmo, mas que pra mim, continuou parecendo outro idioma, apenas mais alto.

E o chiado irritante no fundo?? Era chuva, mas não reconheci. Nos primeiros dias me assustei muito, mas MUITO quando passava caminhão na rua. Porque o barulho era algo que não sabia de onde vinha, não sabia o que era, só parecia uma turbina dentro da cabeça, pensava que não era real. Era mais assustador do que aqueles pesadelos em que a gente tenta correr e não consegue. Só descobri que era caminhão passando depois que vi, e então comecei a associar o som com o fato.

Eu duvidei da minha sanidade mental diversas vezes só nesse último mês. Me sinto esgotada emocionalmente, mal durmo 5 horas por noite, e muitos dias faço apenas uma refeição. Fico frequentemente com o rosto muito vermelho, como se tivesse "envergonhada", mas é tudo resultado do stress.

Isso é o resumo de começar a usar aparelhos só aos 19 anos: barulhos que não temos como saber de onde vêm, o que são, parece uma onda do mar que quebra dentro da nossa cabeça e mal nos deixa ficar em pé. Se fosse desde a infância teria sido muito melhor e mais fácil.

Então, embora eu tenha ficado muito feliz por ter recebido meus AASIs, eu me decepcionei também, é uma mistura de sensações difícil de explicar. No fundo eu sabia que a adaptação seria difícil, demorada e dolorida. No primeiro dia eu queria usar o aparelho o dia inteiro, agora, a primeira coisa que faço saindo do trabalho e tirá-los. Usar em casa, nem pensar, e caminhar com eles é tortura a cada passo. Abrir coisas, maçanetas, zíper, até me vestir é torturante: barulho demais. Sinceramente dá vontade de viver sempre no meu mundo mais silencioso.

Mas temos que encontrar um modo de seguir em frente, então:

Minha lista de motivos para não desistir:


  •  Já consegui diferenciar os números 2 de 8, 0 de 1, e 3 de 6. Antes, mesmo com a leitura labial eu confundia muito. Agora com o som mais detalhado combinado com a leitura labial quase sempre acerto o que é dito.( Claro que depende da voz e dicção da pessoa)

  • Ouvi passarinhos cantando na minha rua, coisa que antes era muito rara. Primeiro estranhei, pensei que tinha migrado algum novo grupo de passarinho pra lá (haha ó a ideia da pessoa ) porque me recuso a acreditar que durante tanto tempo os sons estavam lá e só eu não ouvia! 

  • Não tenho mais tanto medo do meu celular, pois o volume dele já é mais alto que a média, e então com os aparelhos eu entendo aprox, 80% do que é dito. (Mas só no ouvido esquerdo, em ambientes bem silenciosos, apertando muito o celular na orelha e concentrada.)

  • Me desafiei a fazer algo que não fazia há anos: sentar entre duas pessoas que não conhecia, numa praça de alimentação barulhenta, uma de cada lado e conversar. Eu sempre sento na ponta, onde posso ter visão dos lábios de todos, nunca no meio. Mas foi incrível entender algumas poucas frases ditas do meu lado sem que eu estivesse olhando pra quem falava. (Porém não ouço cada sílaba, apenas algumas a mais, o que torna mais fácil deduzir o que foi dito) 

E você? O que te faz continuar usando os AASIs / ICs ???

Hoje, 12/08 estou indo na Otovida para ingressar no nível 2 de 3. Mal me acostumei com tantos sons e já virão mais alguns para serem descobertos. Haja paciência :)

Nenhum comentário:

Postar um comentário